sexta-feira, 15 de junho de 2018

Indústria da construção precisa pelo menos de 50 mil trabalhadores. Emigração e reposição geracional afligem.

Construcao
Sindicatos e associações patronais estão de acordo. A indústria de construção debate-se com falta de mão de obra que varia, segundo os cálculos, entre 50 mil e 100 mil trabalhadores, para fazer face ao programa anunciado de obras públicas, reabilitação urbana e ao investimento privado no segmento residencial e industrial.

As gruas voltaram a marcar as paisagens urbanas. O motor da recuperação é o segmento residencial nos grandes centros, impulsionada pelo investimento estrangeiro.

E a escassez é especialmente preocupante nas áreas de Lisboa e Porto e em zonas turísticas consolidadas como o Algarve.

“Esqueça o investimento público e o interior. A ferrovia para já resume-se a concursos são trabalhos que exigem uma pequena incorporação de mão de obra face às obras residenciais, em especial de reabilitação”, diz ao Expresso Ricardo Pedrosa Gomes, presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Publicas e Serviços (AECOPS).

No caso da pedalada expansionista (4%) persistir até 2020, o empresário calcula que o setor termine a década com um défice de 40 mil trabalhadores, centrado em funções especializadas.

A QUESTÃO SALARIAL

O Sindicato de Construção de Portugal é mais ousado e aponta para uma cifra de 100 mil de trabalhadores. E adverte que as empresas não podem pagar salários de 600 euros.

“Para se tornar atraente e seduzir uma parte dos 250 mil operários que emigraram nos últimos seis anos, o salário mínimo no setor terá de ser de 850 euros”, diz o presidente do sindicato, Albano Ribeiro. Esse foi o valor que o sindicato apresentou ao governo e às associações patronais.

O sindicalista regista que a escassez de mão de obra é transversal ao país, mas verifica-se sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa devido à concentração de obras de reabilitação que exigem uma grande carga laboral.

Albano Ribeiro lembra que os operários portugueses beneficiam na Suíça, Bélgica ou Alemanha de salários superiores a 2500 euros. Nunca voltarão ao mercado português com os “salários de miséria” que a indústria pratica.

Com uma vencimento base de 850 euros, “o efeito de horas extraordinárias e o fator sentimental de proximidade à família talvez permitisse atrair uma parte d a comunidade que emigrou”, diz o sindicalista.

A alternativa “é importar pessoal asiático, de caráter precário e baixa qualidade”, adotando o sistema rotativo de “cama quente” aplicada na China - os operários revezam-se por turnos e dormem na mesma cama.

REPOSIÇÃO GERACIONAL

Ricardo Pedrosa Gomes reconhece que o fator salarial é “uma variável preponderante na resolução desta equação”.

Mas, a realidade diz “que em Lisboa quem quiser contratar um servente já tem de pagar pagar 750 euros de vencimento base”. Caso contrário, “o trabalhador indiferenciado prefere tirar imperais num bar e empregar-se o setor do turismo”.

O salário conta, mas o presidente da AECOPS aponta como nuclear, “o drama da reposição geracional”. A indústria “é fisicamente exigente” e não consegue atrair os jovens”. As crianças já não brincam com camiões nem a construir casinhas. O setor lida com uma comunidade laboral envelhecida, “uma ameaça que se agravou com o movimento migratório para os países ricos da Europa”.

MARGEM FICA NOS PROMOTORES IMOBILIÁRIOS

A indústria portuguesas “nunca terá margem competir com os salários e condições desses países”, adverte Ricardo Pedrosa Gomes. A solução está em adotar métodos construtivos “mais eficientes e limpos, que reduza a incorporação de mão de obra e torne o segmento residencial mais apelativo”.

E, sob capacidade das empresas pagarem melhores salários, deixa uma informação. O preço médio no imobiliário por metro quadrado subiu 20%, mas o custo da construção subiu apenas 1%. Ou seja, a riqueza criada no segmento residencial não chega à indústria. Fica nos promotores e nos agentes que intermedeiam os negócios.

Na última síntese de conjuntura, a Federação Portuguesa da Indústria de Construção e Obras Públicas (FEPICOP) verificava que a escassez de mão de obra qualificada surge como um dos fatores que limitam a expansão do setor. Na lista de preocupações e entraves à atividade, a dificuldade de recrutar surge a par da dificuldade de obtenção de licenças de construção.

A falta de pessoal, adverte o vice-presidente da federação, Reis Campos, “pode comprometer a recuperação do setor por dois motivos: Dificulta a execução das obras nos prazos adequados e pressiona os custos salariais, impulsionando o preço final da empreitada”.

Esta segunda-feira, o Instituto Nacional de Estatística anunciou que a variação homóloga em abril da produção na indústria da construção acelerou para 2,7% em abril, com o emprego a crescer 2,3% e as remunerações a progredirem 4,8%.

INDÚSTRIA CRESCE 4,5%

Segundo o INE, em abril os dois segmentos ( construção de edifícios e engenharia civil) que integram o índice de produção tiveram “comportamentos distintos, embora ambos positivos”.

As previsões da FEPICOP para 2018 apontam para uma crescimento global de 4,5% ( 12 mil milhões de euros), com o negócio residencial a bater por larga margem (8%) os restantes segmentos.

No caso do emprego, a indústria que há 10 anos empregava 450 mil, voltou em 2017 a superar a cifra dos 300 mil. No fim de março estava nos 315 mil e mantém uma trajetória ascendente.

No entanto, a taxa de desemprego (10%) permanece a cima da média nacional (7,9%). O desemprego registou uma trajetória descendente, com uma redução de 49.100 para 35 mil desempregados.

Albano Ribeiro explica a elevada taxa de desemprego pelo salários baixos. É preferível “ficar em casa e receber um subsídio que quase iguala o salário que se recebe do que a trabalhar à chuva e ao sol, durante oito horas”. Os industriais notam um desfasamento entre a oferta e a procura. Quem está no desemprego “não está interessado nem tem aptidões para regressar ao mercado de trabalho”.
 
Fonte: Expresso

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