segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Crédito à habitação com juros negativos até 2019

As taxas Euribor, que servem de indexante para cerca de 98% do crédito à habitação em Portugal, vão continuar a ajudar a carteira dos portugueses e a assumir valores negativos durante mais três anos. Este é pelo menos o sinal que o mercado está a dar. Os futuros sobre a Euribor a três meses apresentavam no final da semana passada valores negativos até Junho de 2019, segundo dados da Bloomberg. O mesmo indicador apontava para que o chão dos juros venha a acontecer no final de 2016, altura em que o mercado coloca a Euribor a três meses negativa nos 0,35%. Este valor compara com os -0,202% a que a taxa se encontrava na última sexta-feira. 

O actual cenário que aponta para uma inversão do sinal para a Euribor a três meses só no terceiro trimestre de 2019, contrasta com aquela que era a expectativa há poucas semanas que colocava um sinal positivo nas taxas já em 2017. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI justifica que “o posicionamento do mercado de futuros, hoje, é uma fotografia do actual sentimento dominante do mercado”, acrescentando que “a leitura do mercado tem sido cada vez mais pessimista, o que se reflecte nos preços dos futuros, que incorporam expectativas de regresso à normalidade em horizontes cada vez mais distantes”. 

A expectativa em relação ao desfecho da próxima reunião de política monetária do Banco Central Europeu que acontece daqui a duas semanas pesa muito nesse sentimento, com os especialistas a apostaram num novo reforço das medidas de estímulo económico para a zona euro. Há um consenso crescente entre os especialistas do mercado monetário de que os próximos passos de Mario Draghi passarão pelo aumento do montante mensal do programa de compra de activos, bem como por uma nova descida da taxa de juro de depósito do BCE dos actuais -0,3%, um cenário que a confirmar-se deverá beneficiar os portugueses com crédito à habitação. 

Paula Carvalho, não acredita, contudo, que o cenário de juros negativos se estenda até 2019. A economista explica que no caso da União Europeia, “as economias estão a beneficiar de um choque muito positivo dos termos de troca (queda de cerca de 70% do preço do petróleo em comparação com 2010-13), de políticas monetárias ultra-expansionistas e de políticas orçamentais que se têm tornado mais equilibradas e em alguns casos expansionistas”, lembrando que apesar das dúvidas, nos principais blocos económicos desenvolvidos, as condições são mais favoráveis. “Tudo ponderado, diria que é possível que os juros regressem a valores positivos num horizonte mais curto do que o que está a ser actualmente incorporado nos preços do mercado de futuros da Euribor”, conclui a economista. Já Filipe Garcia, economista da IMF, diz que “para já nada indica uma reversão das tendências em vigor para os juros”, explicando que “só se e quando o BCE sinalizar uma alteração de políticas ou surgirem pressões inflacionistas futuros, a situação poderá alterar-se”. 

Independentemente das opiniões, o certo é que à medida que o tempo passa, cada vez mais portugueses conseguem tirar partido do actual cenário de juros negativos. As revisões de prestação de crédito à habitação que acontecem no próximo mês irão reflectir isso mesmo (ver texto ao lado). Para além de novas descidas de encargos, pela primeira vez, vai haver famílias com o empréstimo da casa associado à Euribor a 12 meses a ver reflectida na prestação da casa uma taxa de juro negativa. Essas vão juntar-se à grande parcela de agregados com contratos de crédito indexados às Euribor a três e seis meses que já tiram partido de juros negativos nas prestações a pagar. Em termos práticos, essas famílias, estão a pagar uma taxa que já é inferior ao ‘spread’ contratado no crédito, “comendo” assim parte da margem cobrada pelo banco para conceder crédito.
 
Fonte: Economico

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